As palavras me enviaram até uma imagem, escura e tensa de um corpo magro. Chamou minha atenção, não pela sua nudez, talvez pelo tom azulado que a luz foi criando ao fundo, talvez pelo corpo dividir o espaço com a escuridão.
O silêncio da foto me era polifônico, e segui as quinze imagens, quase como uma via sacra. – Descreveram Cristo como um corpo magro e sofrido, que caminhou até o calvário/ ressurreição, em Via Crúcis. E seu sofrimento/amor é lembrado pelos cristãos e revivido pelos católicos com catorze estações (na Via Sacra). – Não comparei/comparo o corpo encontrado na imagem com Jesus Cristo. Mas a analogia é uma coincidência existente, percebida agora, após muitas outras palavras e imagens deste corpo.
Antes era uma foto escura e azulada, nua, do silêncio. Mas senti que era muito mais que isso, havia uma agonia gritante, uma dor, não era apenas sofrimento, era uma agonia e dor de existir, de transformação, era um conjunto de “auto” – autoencontro, autodescoberta, autodestruição... – mesmo com o peso que ela parecia ter, para mim aquela imagem me fez sentir leve. As outras imagens anteriores e posteriores da série que ela fazia parte, também me agradaram – partes, divisões, cores, sombras, luzes, desfocalizações... – além da estética, a sensibilidade que ali estava registrada/ transformada, fez-me sentir felicidade. Senti-me ainda mais atraída, não foi o corpo, mas, tudo que ali habitava e eu ainda não conhecia, apenas sentia que era bom.
Hoje, esse mesmo corpo, não tão magro, não tão escuro, não tão tenso, continua a chamar a minha atenção. As suas palavras continuam a construir imagens, nuas, puras, azuis, amarelas – multicoloridas. Seu silêncio é polifônico, às vezes música. Não há uma Via Crúcis, cresce um jardim. Sinto ainda sua agonia de existir, pois ele pulsa e é sensível a isso. Os “autos” são muitos. O peso, nunca existiu, tudo flui. Tudo que era desconhecido me atraiu, agora é tão mais bonito. Tudo que ainda não conheço continuo a sentir que é bom.
Antes o que era medo de amar, hoje é amor.
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